Hoje vamos falar sobre economia circular e seu papel na nossa realidade de consumo. Serão elencadas as ligações da temática com o saneamento básico.
- Sistemas de consumo
- O papel da economia circular
- Economia Circular no saneamento: É possível?
- Água Tratada
- Economia circular e estratégia empresarial
- Resíduos Sólidos
- Fundação Ellen MacArthur
- Tratamento de esgoto
- Água Tratada
Será que temos ideia do impacto do consumo humano na natureza? Elencamos alguns fatores interessantes sobre o assunto e vamos falar deles a seguir.
Um estudo realizado em 2016 pela OMS teve a temática: “Prevenção de doenças através de ambientes saudáveis”. A resultante foi que 1/4 das mortes no mundo são por fatores ambientais.
A pesquisa considerou a poluição do ar, água, solo e ainda por produtos químicos em determinadas localidades. Nessa soma entram ainda as mortes resultantes de alterações climáticas.
Uma outra pesquisa, realizada pelo Banco Mundial em 2016, calculou que o custo anual da poluição do ar é de 4,9 bilhões de dólares no Brasil. Esse valor se refere apenas aos gastos com mortes prematuras causadas por esse fator.
Já quando falamos de quantidade de resíduos gerados os números são crescentes.
Segundo a UNEP, a quantidade de matéria-prima extraída da terra triplicou de 1970 á 2010. Passando seu volume de 22 bilhões de toneladas para 70 bilhões. O relatório tem por nome “Fluxo de materiais globais e produtividade dos recursos” e foi divulgado em 2016.
Considerando só essas pesquisas temos no mínimo três vertentes para se preocupar em relação aos impactos do consumo: morte prematuras, gastos com saúde e o crescimento constante do mesmo.
Sistemas de consumo
Para tentar contornar os malefícios ambientais e na vida humana o chamado sistema linear de consumo ou produção vem sendo repensado ao longo dos anos.
Esse sistema linear é antigo e propunha um modelo de consumo que era baseado nos seguintes fatores: extração, transformação, distribuição, consumo e geração de lixo.
Basicamente é o sistema mais simples que temos de consumir qualquer tipo de produto. A matéria prima é extraída da natureza, transformada ou tratada pelas indústrias, distribuída e vendida para a população e por fim consumida gerando alguma matéria para descarte.
Um vídeo que explica a fundo esse sistema está disponível neste link. Uma das citações é que cada quilo de lixo gerado pelo consumo produz 70 kg de resíduos na indústria.
Em suma o que precisamos entender é que a forma como conduzimos esse sistema linear para um planeta que dispõe de recursos finitos é irresponsável.
Por isso emergem constantemente tentativas de reduzir o consumo, reutilizar produtos e reciclar o lixo, os chamados 3R’s. Essa é apenas a parte do consumidor, mas e os outros setores desse sistema o que fazem ou podem fazer?
O papel da economia circular
Quando tratamos do sistema de consumo como um todo e tentamos encaixar a conscientização logo desponta a economia circular.
Economia circular é um conceito estratégico que passa pela redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. Modelo que passa por todos as fases do antigo sistema linear o transformando justamente num ciclo. Esse tipo de sistemas de produção e consumo é considerado de circuito fechado.
O que a economia circular faz de fato é passar em todas as fases do sistema e atribuir uma responsabilidade. Criando um fluxo onde a matéria pode retornar para o sistema como matéria prima por exemplo.
Essa forma de economia reduz o uso de matéria prima e desenvolve a consciência no uso e descarte da matéria prima. Já na distribuição os vendedores e distribuidores ficam mais exigentes quanto a origem do produto e a forma de produção.
O consumidor continua sendo importante com um descarte correto, que vai facilitar o tratamento e reinserção do resíduo no ciclo como matéria prima.
A economia circular depende da contribuição da sociedade como um todo para que funcione de fato. Desde a extração até o tratamento dos resíduos.
Até o momento a ligação entre o aumento de uso dos recursos e crescimento da economia era vista como inseparável. Pela primeira vez uma economia tenta mostrar que mais pode ser menos, reduzindo gastos de recursos e aumentando a produtividade.
A dinâmica da economia circular envolve compromissos institucionais e sociais, bem como compatibilidades técnicas e econômicas. Visto que para o ciclo fechar deve haver comprometimento de todas as partes.
Como exemplo de economia circular, os ecossistemas naturais são perfeitos. A natureza, sem interferências externas, consegue gerir um processo contínuo de reabsorção e reciclagem, o que perpetua sua subsistência.
Economia Circular no saneamento: É possível?
Já era de se esperar que o saneamento que lida com um recursos tão vitais para a vida, deveria se aproximar da lógica de ciclos autossustentáveis.
Conforme veremos adiante várias vertentes do saneamento básico tem adotado medidas de uma economia circular.
Água Tratada
Quando falamos de água tratada, vemos a aplicação de economia circular quando não se descarta apenas a água. Em vez de captar mais dos corpos hídricos, esta pode ser retratada e inserida no sistema.
Ou ainda um pré tratamento permite a utilização em irrigação, por exemplo, evitando custos do tratamento para descarte.
A aplicação desses conceitos na água traz resultados como: maior eficiência no uso da água, redução do consumo, manutenção da disponibilidade e qualidade, e redução de riscos. Esses riscos vão desde perda de produtividade até a conflitos de uso na sociedade devido a escassez.
Fora esses benefícios, temos um uso mais eficiente de recursos financeiros das empresas que utilizam a água como matéria prima.
Um exemplo é a fábrica da Nestlé localizada em Montes Claros, que resolveu utilizar dessa economia circular. No local são fabricadas cápsulas do café da NESCAFÉ® Dolce Gusto®, e 100% da água utilizada no processo produtivo é do reaproveitamento de uma fábrica vizinha de Leite Moça®. Água que é extraída do leite condensado.
Essa reutilização permite uma economia de 68 mil m³ de água, evitando retirar essa carga de um sistema hídrico já defasado na região.
Economia circular e estratégia empresarial
Quando a economia circular entra em cena podemos esperar também estratégias empresariais calculadas para lutar contra a escassez de recursos.
Um exemplo é a fábrica Braskem, localizada na região sudeste do Brasil, consumindo água de reúso em seu processo produtivo. A água que a empresa recebe é do Projeto Aquapolo, maior projeto de água de reúso da América do Sul e o quinto maior do planeta.
A estratégia de utilizar essa água barrou a queda produtiva, que atingiu as concorrentes, quando a região passou pela crise hídrica de 2014. Além disso, a qualidade da água permitiu passar de 4 ciclos com o uso da mesma água no processo de resfriamento para 8 ciclos. O que aumentou a eficiência do processo de maneira significativa.
Resíduos Sólidos
Os resíduos sólidos têm a característica de carregar consigo de forma mais clara e constante de reinserção de rejeitos no seu processo produtivo. Os famosos 3R’ s (reduzir, reutilizar e reciclar) tentam controlar a quantidade de lixo produzida, desde a compra até o descarte.
O fato é que o ritmo acelerado de produção de resíduos sólidos não tem sido aplacado apenas por esses métodos. Considerando a obsolescência programada unida ao ritmo tecnológico e comercial do mundo atual.
No Brasil, o total de 200 milhões de habitantes produzem em média quase um kilo de lixo por dia. Isso nos remete a um total de 183 mil toneladas de lixo diários por todo país.
Portanto a tentativa da economia circular é aprofundar os 3R’s com outros dois de economia, a restaurativa e a regenerativa.
Nesses métodos se poderia levar os resíduos, que atualmente não são biodegradáveis e não tem um fim prático na reciclagem, para a empresa que o produziu para reutilizar no processo produtivo. Como televisores, máquinas de lavar roupa, smartphones e etc.
O que a economia circular vem sugerir na ocasião de resíduos sólidos é:
- Minimizar o impacto de utilização de recursos renováveis, reduzindo o consumo destes
- Objetivar produtos e serviços para sua utilidade ou fim e não para sua autovalorização
- Criar produtos a base de substâncias puras pensando na posterior separação das matérias, priorizando as não tóxicas
- Reduzir ao máximo a contaminação de materiais para permitir recirculação
- Fazer com que determinado produto permaneça o maior tempo possível dentro da cadeia ou ciclo
Para tais feitos as políticas de resíduos sólidos nos países deve ser repensada, garantindo a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a operação reversa e o acordo setorial. A modelo da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), implantada no Brasil em 2010.
Fundação Ellen MacArthur
A fundação Ellen MacArthur surgiu em 2010 com o desafio de acelerar e apoiar empresas na economia circular. Vista como uma das pioneiras nesse pensamento, apoia a criação e implantação da economia circular em empresas e no governo.
São focadas 5 áreas: Insight e Análises, Empresas e Governos, Educação, Comunicação e Iniciativas Sistêmicas.
A fundação já conta com parceiros multinacionais de grande porte como: Google, Danone, Nike, Philips, Renault entre outras. Cada qual com propósitos bem definidos que vão desde a concepção de seus produtos e serviços até as parcerias firmadas na utilização de recursos.
Tratamento de esgoto
Já no tratamento de esgoto temos uma história de sucesso no Bosque de Chapultepec, na Cidade do México. O lugar com 686 hectares, abriga 22 espécies de animais, e 105 tipos de árvores, recebendo 18 milhões de habitantes por ano.
Diante da necessidade de reabilitação do parque e a construção de uma estação de tratamento de esgoto, foi criado um sistema para integrar essas obras e permitir ainda uma manutenção desse sistema.
No ano de 2015 a Comissão Nacional de Água (CONAGUA) emitiu uma licitação pública para tais finalidades. A empresa de origem parisiense Suez foi contratada para cumprir com tal desafio.
A estação de tratamento de esgoto criada pela empresa permitiu usar as águas tratadas para: irrigar as áreas verdes do parque, encher os lagos recreativos e injetar águas nos lençóis freáticos.
Sobre a água injetada, vale salientar que 75% da população Cidade do México se utiliza de águas subterrâneas. Devido a falta de equilíbrio entre o consumo das águas e a reposição através das chuvas a cidade afundou dez metros e 20% da população não tem abastecimento diário. Falamos sobre o caso em outro artigo.
Por fim, 100% das águas vindas pelo esgoto é reutilizado, com o lodo residual aplicado como fertilizante para o bosque.
As tecnologias utilizadas pela Suez incluem reatores biológicos, ultrafiltração e osmose reversa.
Concluímos assim que é possível aplicar a economia circular no saneamento básico. Isso vai além da preservação do meio ambiente mas abrange o uso consciente e máximo reaproveitamento de recursos. Fatores que podem dar maior estabilidade para a utilização dos recursos em nosso planeta.
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