O Instituto Trata Brasil desenvolve estudos na área de saneamento básico, e entrevistou o oceanógrafo David Zee, a respeito de como a falta de saneamento básico está afetando os oceanos. Confira!
Impactos da falta de saneamento para os oceanos
Dia 8 de junho, comemoramos o Dia Mundial dos Oceanos. A data foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2008 com objetivo de ressaltar a importância desses corpos hídricos para o ecossistema.
Conversamos com o oceanógrafo e embaixador do Instituto Trata Brasil, David Zee, sobre os impactos dos lançamentos dos esgotos nesses corpos hídricos, desafios e soluções. Confira!
–Você certamente já esteve em diversos países, qual o seu sentimento quando volta ao Brasil e se depara com a situação da nossa água?
Enquanto aos outros países, principalmente países desenvolvidos, a gente percebe o cuidado extremo com a questão da qualidade da água, eles têm noção que o saneamento básico interfere diretamente na qualidade de vida, saúde, pública e até a economia do país, muito do desenvolvimento econômico do país depende especificamente da água.
E o Brasil, pelo fato de ter abundância, muitas vezes não dá o devido valor para a conservação e preservação desse recurso. Tratamos essa questão como se futuramente nós não iremos enfrentar problemas de escassez de água. Então, quando a gente volta, percebemos como a gente ainda está atrasado quanto a essa questão da consciência e principalmente do valor potencial que existe numa água limpa.
–Sabemos que 100 milhões de brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto em seus domicílios, os principais receptores desse despejo irregular são mares e rios. Quais os impactos para esses corpos hídricos?
Quanto a essa questão, a primeira coisa que a gente tem que entender é que à medida que a gente deixa o esgoto escoar na natureza de uma maneira ou de outra, ela volta para você mesmo, é como dar um tiro no próprio pé.
À medida que a gente de uma maneira descuidada deixa o esgoto se misturar às águas naturais, é a mesma coisa que se nós tivéssemos um copo de água limpa e pingássemos uma gota de uma sujeira qualquer, isso contamina a água toda.
Se a gente tivesse o cuidado e evitar que essa pequena gota se encontrasse com grandes mananciais, nós não precisaríamos fazer um tratamento com tamanho volume, uma vez que fomos capazes de evitar que ela se misturasse com a água limpa.
A questão dos grandes centros urbanos é essa, nós descuidadamente deixamos escoar para os rios, que por sua vez contamina as lagoas, que por sua vez contamina as baías e que vai contaminar os oceanos.
Nós temos mais de 8.500 km de costa brasileira, nosso turismo é um turismo ambiental que depende muito da qualidade ambiental e a água tem um fator de fundamental importância e isso faz o país perder empregos, onde poderiam ser nas atividades dos esportes aquáticos, no turismo ambiental no litoral brasileiro, nos hotéis, nas hotelarias que empregam, mas as pessoas perdem porque perdem o próprio manancial e a atração do turista que é exatamente as águas limpas, as água quentes, as águas transparentes e deixam contaminada. Então, muitas vezes, não percebemos o quanto que se perde com essa falta de manutenção, de segregação do tratamento dos nossos esgotos.
–Quais medidas de segurança ambiental e sanitária as autoridades devem tomar para combater essa situação?
No Brasil, nós estamos vivendo em uma época muito difícil onde os custos e os recursos com a saúde minimizaram de uma forma drástica. Nós estamos beirando o caos na questão da saúde pública. Mais do que nunca, nós temos que ter inteligência em adotar medidas preventivas ao invés de medidas corretivas, é muito mais barato tratar a saúde pública, não com a doença instalada, mas evitando que a doença se instale.
O principal veículo de instalação da doença são os micro-organismos, são exatamente os efluentes domésticos, os esgotos urbanos que trazem toda a ordem de sujeiras e microrganismos patógenos nocivos à saúde pública. Então à medida que a gente consegue retirar isso dos rios, fazer com que não chegue até os rios e que não fiquem livres no meio ambiente, nós teríamos muito menos problemas de tratamento dessas doenças.
Os surtos e epidemias de agora são uma coisa corriqueira, frequente, normal e é preciso que trate, que tratemos a água, porque a água é o principal veículo dessas doenças de origem hídrica, de veiculação hídrica.
Nós, no fundo, estamos investindo cinco vezes mais na saúde, na prevenção da saúde, então é preciso que as pessoas entendam que é muito mais barato investir no saneamento básico do que jogar muito dinheiro em cima da saúde para curar a doença, é preferível que não se instale a doença, e para não se instalar a doença é preciso que evite que o vetor, que a doença chegue através da água suja.
–Quais os principais desafios ambientais o Brasil passa e ainda vai passar nos próximos anos em relação à qualidade dos corpos hídricos?
Eu acho que o principal desafio é a informação e a comunicação para que haja a formação de uma opinião pública coerente e consciente da importância da preservação das águas naturais.
O principal veículo de transmissão de doenças e de saúde estão exatamente na água. É a maneira de como a gente trata as águas naturais, se a gente souber efetivamente preservar a qualidade das águas ela vai levar saúde para todos, agora se não soubermos preservar a qualidade das águas ela vai levar doenças para todos.
Fonte: Blog Trata Brasil
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