Há diversos impactos com as perdas de água no sistema de abastecimento brasileiro. Financeiramente, todos perdem. Quer saber como? Leia nosso texto abaixo!
Muito se fala em recursos hídricos. Especialmente após a crise hídrica no Sudeste em meados de 2014 e 2015, aumentou-se a discussão sobre a preservação e uso consciente da água.
Já tratamos diversas vezes em nosso blog sobre a abundância hídrica no Brasil e as dificuldades dos sistemas de abastecimento. Temos um país rico em águas subterrâneas e por precipitações. Entretanto, a distribuição é irregular ao longo das regiões brasileiras.
O estado do Amazonas possui elevada capacidade hídrica, porém, tem uma das menores densidades populacionais do Brasil. Essas divergências regionais dificultam o planejamento da gestão.
Ainda neste ano de 2017, diversas cidades sofreram racionamentos. No Nordeste, vários municípios decretaram situação de emergência, principalmente na Paraíba, após um longo período de estiagem.
E até mesmo o Distrito Federal entrou para a lista das regiões com falta de água. Desde o início do ano, há racionamentos no DF. E apesar das recentes chuvas, o volume dos mananciais de abastecimento da região operam abaixo do normal.
A expectativa da Adasa (Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal), é que o volume de água volte a subir a partir do mês de dezembro e continue no início do ano de 2018.
Com a escassez desse recurso vital, as perdas de água é motivo de grandes debates. O índice de perdas é um dos principais indicadores de eficiência da operação dos sistemas de abastecimento de água. E é algo que tem feito as empresas despenderem esforços.
Apesar de uma redução tímida ao longo dos anos, o indicador geral do Brasil tem sido decrescente. Por outro lado, as disparidades entre as regiões são gigantescas.
Perdas de água no sistema de abastecimento
Se você trabalha no ramo do saneamento e da gestão ambiental já deve estar cansado de debater sobre perdas. Porém, se não é do setor, que tal lembrar do conceito de perdas de água?
De acordo com a ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), chama-se de perda real aquele volume de água desperdiçado antes de chegar às unidades de consumo, ou seja, as perdas reais se referem à toda água tratada que se perde no sistema de distribuição.
Além disso, têm-se as perdas aparentes, também conhecidas como perdas comerciais. Elas são consideradas como o volume consumido e não computado pelas operadoras.
Até um tempo atrás, a contabilização das perdas se distinguia de país para país, não havendo um padrão global.
Assim, a Associação Internacional da Água (IWA) buscou padronizar o entendimento dos componentes dos usos da água. Como resultado, gerou-se a matriz de Balanço Hídrico, na qual é possível inserir os tipos de perdas.
Dessa forma, quando comparamos o Brasil com alguns países desenvolvidos, é possível notar o grande espaço para mudanças. Cidades da Alemanha e do Japão possuem índices de perdas em torno de 11% e a Austrália possui 16%.
Com valores médios decrescentes, o Brasil se movimenta em velocidade baixa. Os últimos dados divulgados pelo SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), em 2015, aponta o índice nacional de perda de água em 36,7%.
Quando se olha os indicadores passados, nota-se que a evolução foi muito lenta. Em 2011, o índice era de 38,8%. Isso significa que, em quatro anos, a redução foi de apenas 2,1 pontos percentuais.
O cenário brasileiro piora quando se olha para os índices estaduais
Em um momento de retomada de investimentos do setor de saneamento, é notável o desafio para as concessionárias públicas e privadas de saneamento.
Do ponto de vista da gestão, é necessário implementar ações para enfrentar o problema. De acordo com a ABES, em algumas empresas de saneamento as perdas de água ultrapassam os 60%.
O impacto financeiro torna-se notável quando se observa os índices estaduais divulgados pelo Instituto Trata Brasil. Em 2010, a média brasileira de perdas de faturamento era igual a 37,57%.
Nas regiões, segundo o Instituto, a média era de de 51,55% na região Norte, 44,93% na região Nordeste, 32,59% na região Centro-Oeste, 35,19% na região Sudeste e 32,29% na região Sul.
Claro que esses números já sofreram alterações nos últimos anos. Por exemplo, Macapá passou de quase 75% no índice de perdas para 67% em 2016. De acordo com a Caesa (Companhia de Água e Esgoto do Amapá), foram colocados em práticas dois programas para redução das perdas.
Segundo a companhia, as ligações clandestinas e a quantidade de consumidores não cadastrados como clientes as maiores dificuldades.
Ressalta-se que este não é um problema somente no estado do Amapá. No geral, um dos grandes desafios para as concessionárias brasileiras é identificar as ligações clandestinas, principalmente nas construções irregulares.
Com isso, as perdas de água representam um dos maiores desafios e dificuldades para a expansão das redes de distribuição de água no Brasil. Isso impacta também na expansão do esgotamento sanitário no país devido às perdas de receita.
O Instituto Trata Brasil afirma que tais perdas possuem diversas causas. Elas se derivam não somente das ligações clandestinas e roubos de água, mas também por ausência de hidrantes, medição, vazamentos, corrosão, idade avançada das redes de distribuição, obras mal executadas, entre muitas outras.
Impactos financeiros das perdas de água
Para as concessionárias, um elevado índice de perdas significa uma redução no faturamento. Consequentemente, diminui sua capacidade de investir e obter financiamentos.
É importante saber que a abordagem econômica para cada tipo de perda é diferente. Sobre as perdas reais recaem os custos de produção e distribuição da água. Já sobre as perdas aparentes, tem-se os custos de venda da água, acrescidos dos custos de coleta do esgoto.
Para o Instituto Trata Brasil, a perda real de água tem um grande impacto negativo sobre o meio ambiente. Muitas cidades já sofrem escassez hídrica, como ressaltamos no início do texto, e as perdas fazem com que mais água tenha que ser retirada da natureza para cobrir a ineficiência, vazamentos e outros problemas no sistema de distribuição.
A ABES afirma que a redução das perdas reais permitem às empresas produzirem menores quantidades de água tratada para abastecer a mesma quantidade de pessoas.
Com isso, tem-se a redução de produtos químicos, energia elétrica, compra de água bruta (nos casos em que há cobrança pelo uso da água) e custos com mão de obra. Imagina o quanto isso impacta financeiramente para as empresas?
Da mesma forma, a redução das perdas aparentes impactam na receita das concessionárias. Diminuir fraudes na ligação, a falta de hidrômetros, os problemas de medição e os consumos não faturados geram um aumento do volume faturado.
Assim, torna-se mais fácil planejar os investimentos necessários para atender o aumento da demanda decorrente do crescimento populacional.
Do ponto de vista econômico-financeiro e ambiental, diminuir as perdas de água é viável para as operadoras e permitem que mais pessoas sejam atendidas.
Para os consumidores, além da possibilidade de expansão e melhorias nos serviços de saneamento, não é feito o repasse das perdas para as tarifas cobradas.
Programas de Redução de Perdas de Água
Diversas empresas de saneamento estão investindo em Programas de Redução de Perdas. Esses programas consideram a relação entre o valor gerado pelo volume de água economizado e o valor do investimento, seja em infraestrutura ou gestão comercial, para lograr a redução de perdas.
Segundo a ABES, conforme os níveis de perdas reduzem, os custos dos programas se elevam. Pois a economia de água gerada por investimento realizado é cada vez menor.
Os programas de redução de perdas aparentes são financeiramente atraentes, pois geram um retorno financeiro rápido. Já os programas para a redução de perdas reais, inicialmente são atrativas, principalmente quando há um elevado índice de perda, porém, após uma redução significativa, os investimentos deixam de se tornar atraentes.
O saneamento básico é uma das áreas mais atrasadas da infraestrutura nacional. Sua expansão e melhorias dependem da boa gestão do setor e em especial, da dramática situação das perdas de água.
O Instituto Trata Brasil estima que uma redução de 10% nas perdas agregaria cerca de R$ 1,3 bilhão à receita operacional com a água.
Há muito o que ser feito pelo governo e pelas empresas brasileiras de saneamento para aumentar a eficiência operacional.
A ABES ressalta que as atitudes para redução das perdas demandam planejamento, conhecimento e persistência das ações. É possível obter resultados rápidos, entretanto, grandes reduções exigem um longo prazo.
Quer saber mais? Não deixe de conferir nosso artigo com atitudes para redução de perdas de água. Existem diversas ações sendo realizadas contra as perdas financeiras na água.
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